20.4.24

MALCATA: JÁ NÃO HÁ PACIÊNCIA

 

   Esta semana tive de vir à aldeia e tenho aproveitado para arrumar a casa onde viveram os meus pais. Como tenho uma carrinha tenho mais facilidade de tratar dos assuntos pessoais fora da freguesia. E é natural passar por vários caminhos e às vezes mais do que uma vez durante o dia.
   Desta vez encontro demasiadas coisas que me estão a perturbar a mente e não tenho memória de tanta desgraça!
    Atribuir responsabilidades das situações à oposição política está descartada logo à partida, porque não há oposição. Muito território e muitas estruturas para manter minimamente em bom estado de conservação e utilização e sem força humana capaz de responder às necessidades . Mas caros conterrâneos, que viveis durante o ano na aldeia, as situações anormais encontram-se à vista de toda a gente e não as devem avaliar como normais, naturalmente são tudo menos isso.
   Ora, perante as situações que já vi e algumas sendo em vias públicas e que pode causar perigo a pessoas e bens, tirei fotografias para ilustrar o que acabei de afirmar e deixar um aviso às pessoas para pressionar a autarquia a tomar medidas urgentes que resolvam estas perturbações.

  

























6.4.24

MALCATA ANTES DE ABRIL DE 1974

Merece uma visita.

 


   Este mês comemoramos 50 anos da Revolução de Abril que tem marcado a História dos portugueses quer vivam no país ou fora. É uma celebração da libertação do nosso país de um regime ditatorial para uma democracia participativa. Estes anos que passaram muitos de nós ainda têm dificuldade em compreender o que aconteceu e alguns ainda têm saudades dos tempos da “outra senhora”, principalmente do professor Marcelo Cetano.
   Quem se lembra como era a nossa freguesia de Malcata antes do 25 de Abril de 1974?
   Imaginem que são realizadores de cinema e a Junta de Freguesia escolheu-vos para escreverem uma redacção com o título:
“Como era a minha aldeia até 25 de Abril de 1974?”
   Algum de vós aceita o desafio de relatar a vida nas aldeias portuguesas, como viviam, como eram as casas, as ruas, o medo das autoridades, o que podiam fazer e o que o Estado proibia…a alimentação, o vestuário, a educação, a escola primária…a emigração,
as guerras nas Províncias Ultramarinas, etc…e terminar a redação com as mudanças que o 25 de Abril trouxe à nossa terra nestes 50 anos.

30.3.24

A LÓGICA DA FÉ DE MARIA

 


   O que aconteceu também acontece connosco quando passamos por momentos de sofrimento e de perda. Vemos e não queremos ver, as pessoas andam demasiado agitadas e a realidade de tudo o que está a acontecer parece um sonho, é como se não estivéssemos a participar. Sabemos que o levaram para um lugar escuro e descansados porque a chuva nem os cabelos pode molhar, continua o seu sono profundo. Muitas mulheres ficam com os lenços de pano completamente encharcados, menos molhados os lenços dos homens, convencidos que para ser homem não podem chorar.  Depois da cerimónia fúnebre todos regressam às suas casas, aos seus afazeres do costume. 
   O dia e a noite deste sábado custa a passar. E a impaciência vai ser tanta que as amigas de Maria combinam ir ao cemitério verificar se nada foi mexido ou derrubado.
   Viram a pedra da sepultura desviada para o lado, sinal que alguém entrou e apoderou-se de alguma coisa que no dia anterior lá foi deixada. A certeza é que a pedra foi retirada do seu sítio e qualquer pessoa entrava e saía. As mulheres entraram e viram que o morto desaparecera durante a noite. Mas que mistério…fugiram e correram como nunca tinham conseguido correr até à casa da mãe de Jesus.
- Maria, ó Maria anda cá depressa!
- Ó Maria, despacha-te e vem depressa!
   A Maria levantou o testo da panela e voltou a deixá-lo de maneira a sair os vapores da água do caldo que já estava quase prontinho. O que quererão aquelas mulheres de mim? O que terá pensado Maria enquanto desapertava o avental e abria a porta de casa?
   - Levaram o teu filho!
   - Ai mulher, só tu para nos acalmar, estamos todas aqui num nervosinho e tão aflitas,
e tu está aí tão tranquila! Vem com nós, levaram Jesus, não o encontrámos no túmulo!
   - Minhas queridas, onde estais com a cabeça? Porque estais assim tão aflitas e surpreendidas? Lembrai-vos das conversas destes últimos dias e ficareis tranquilas como eu estou. Olhai para mim, a comida está ao lume e espero por Jesus para nos sentarmos à mesa do costume para comer. Ide mas é à vossa vida, ide amanhar as vossas casas e tratar dos vossos homens e filhos. Se eu não acreditasse no meu filho,
quem vai acreditar? Sempre achei que era especial e ide porque eu ainda tenho mais coisas a preparar para a ceia. De qualquer forma, obrigadas pela vossa preocupação.
   - Madalena, deixa-a em paz e na companhia das panelas e alguidares, vamos cada qual para sua casa e logo pensamos o que fazer.
    Maria acenou com a mão direita e sorriu, voltou para a cozinha e as mulheres cada uma para sua casa.
  
   Nota: esta história é ficção, mas ajudou-me a esclarecer a importância de acreditar, de viver a fé. Esta é a explicação que tenho para justificar a decisão de Maria e não acompanhar as outras mulheres a verificar o sepulcro. Ela sabia e acreditava que Jesus regressaria a casa, não sabia como ou quando. 
    
   A vida é mesmo uma surpresa!
   
 

29.3.24

NINGUÉM SE SALVA SOZINHO

            Viver  a  vida  a  pensar  nos  outros


   O entardecer volta a cobrir a minha vida e recordo-me das trevas e do silêncio ensurdecedor, um vazio dentro de mim que não me deixava olhar sequer para o céu e isso ninguém viu porque estavam todos fechados nas suas casas porque a tempestade
era demasiado forte, inesperada e furibunda. Desorientei-me, as lágrimas não me deixavam ver o caminho e à porta do cemitério eramos cinco à espera de uma pessoa que não aguentou mais tempo confinado ao seu quarto, sem visitas, só entrava quem cuidava do seu corpo, porque a alma já a tinha oferecido aos que o amavam.
   Sempre respeitei a sua autonomia e a sua liberdade. Não lhe impus aquilo que eu pensava que seria o mais adequado para ele. Mas os decretos do Governo definiram que quem tivesse atendimento hospitalar e lá passasse a noite, regressava e tinha que ficar isolado dos outros utentes do lar. Nesse mês de Março de 2020, as missas eram proibidas e os funerais obedeciam a regras nunca antes decretadas. Os senhores da política até decretaram o número máximo de pessoas que podiam acompanhar os cortejos fúnebres e entrar nos cemitérios. Tudo porque não se podia fazer ajuntamentos de muitas pessoas. Como as missas estavam proibidas, os velórios deixaram de se realizar. As empresas funerárias encarregavam-se de todos os procedimentos necessários, cumprindo as determinações da Direcção Geral de Saúde.
Tinham o trabalho de ir aos hospitais e transportavam as urnas bem seladas directamente para o cemitério, onde os familiares mais chegados (máximo de 10) aguardavam a chegada, mantendo entre eles a distância que as autoridades aconselhavam. Sem grandes cerimónias, o Pe. Eduardo depois das orações e de umas breves palavras de aconchego, foi apressado para outro cemitério.
   Vivíamos todos em estado de emergência. Todos corriam o risco de ser apanhados de surpresa pelo vírus. A vida e a sociedade não estava preparada para tanto, ninguém estava habituado a sentir medo do presente e dos dias a seguir.
   Cada um penso que cumpriu o seu dever, mesmo aqueles que lhes foi imposto. E assim ajudámos o nosso país a levantar a cabeça. O mundo que quase parou, voltou ao seu habitual.
   Hoje, 29 de Março de 2024, estamos novamente a reflectir na morte de Jesus Cristo.
   Estamos todos no mesmo barco e a nossa fragilidade mostra-nos a falta das palavras do Mestre da embarcação “Não tenhais medo”. Somos chamados a remar juntos e confiar no nosso mestre para chegar a porto seguro.

José Augusto Martins
                 Hoje sinto que a vida começa a ficar mais normal, sem me sentir o único responsável pelo que aconteceu nos dias que antecederam o dia 29 de Março de 2020.
   A vida continua.
                                 Santa Páscoa a todos desejo.                                   
                                                                                               
   



17.3.24

CÁ ESPERO PELAS NOVIDADES


Uma árvore mimosa em Malcata


 
   O povo, diz a canção, é quem mais ordena. Em Malcata o povo vive cada vez mais resignado, adormecido e desconfiado. Se cheirar a mudança, o povo deixa-se estar no mesmo lugar e não se importa por continuar como está. Cada um preocupa-se consigo mesmo e quem está ao leme da Freguesia é que tem a incumbência para mudar as coisas públicas e o senhor prior as coisas que dizem respeito à igreja, ao religioso.
   O povo já não quer saber dos baldios, nem sequer perguntar como vai a vida na comunidade. Basta ir à aldeia num dia de sessão da Assembleia de Compartes ou da Assembleia de Freguesia e sentar-me nos lugares destinados ao público. Posso escolher sentar mais longe ou mais perto da porta do edifício onde está a decorrer a reunião. As vezes que o fiz, o público era só eu e mais ninguém. Onde estão as outras pessoas que habitam e vivem na aldeia? Devia comparecer e preencher todos os lugares destinados ao público,  para  ouvir o que de mais importante anda a acontecer na aldeia e  ainda têm a oportunidade de intervir e interpelar a mesa da assembleia.
   O falar nas ruas e na mesa dos cafés não é o mesmo que levantar do assento e depois da autorização do senhor presidente da Assembleia  dar consentimento já pode falar claramente o que tem a dizer. Depois de falar, é esperar pelas respostas, mesmo que alguém tenha ficado incomodado com o assunto. E meus caros conterrâneos, ali não existem pessoas más e violentas, são gente adulta, civilizada, sabem que estão ao serviço do povo, não têm porque se sentir incomodados, ou maniatados por quem quer que seja. Querem ficar a saber quanto renderam os pinhos nos baldios? Ou querem saber o que se está a passar com as cabras que não se veem nos baldios? Precisam de saber se podem acender o lume em casa com lenha dos baldios? Vão à reunião e perguntem que vão responder. E o mesmo digo a respeito da situação em que está a freguesia, apareçam nas reuniões da Freguesia e ouçam, perguntem e digam  o que vos está a atrofiar a vista! 
   Penso que eu não serei o único refilão na nossa aldeia! Vivo longe, bem longe daí e ainda tenho interesse por andar minimamente informado acerca da vida comunitária
na nossa aldeia. E lembrem-se disto:
   “Eu até não sou mau rapaz
   Com maneiras até sou bem mandado
   Mas para que lado é que me viro, pra que lado.”
   Envio esta mensagem e espero que enviem novidades. Vou aí em Abril para a EDP mudar o contador
da luz lá da casa número seis.
    Já não tenho mais para escrever. Cumprimentos e abraços.

    José Nunes Martins

   
  
  
   Próxima Assembleia de Compartes da Freguesia de Malcata: