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quarta-feira, 14 de maio de 2025

MALCATA: A PROCISSÃO VAI NO ADRO

                                                               Igreja Paroquial e adro em Malcata
 

   A requalificação do adro penso que é pacífica para a maioria das pessoas de qualquer aldeia. E no caso do nosso adro da igreja paroquial, vai ficar mais amplo, mais desafogado e mais aberto e coloca a nossa igreja mais em harmonia com o espaço envolvente.  Para que isso seja assim, os familiares que eram os donos legítimos da casa que vai ser demolida, por muitas saudades e nostalgias possam ainda sentir, merecem um agradecimento e consideração de todos.
   Quando foi apresentada a ideia da requalificação do adro, todos os que participavam na reunião concordaram e apoiaram a iniciativa. A intenção e as ideias para as obras que ali irão decorrer, devem ser coordenadas por pessoas credíveis e com experiência na área de planeamento e arquitectura. Um dos elementos que vai fazer parte das obras é uma escultura alusiva aos carvoeiros de Malcata. Esse elemento tanto pode ser uma estátua, como até um painel exposto e integrado num suporte, por exemplo, na parede da casa que vai ali
continuar a existir e que tem entrada pela Rua da Ladeirinha. Assim se pode transformar o adro valorizando o património da freguesia. Como sabem, o adro noutros tempos era o palco das festas, da arrematação de bens para as pagar, era lugar de encontro e conversas. Hoje é um espaço vazio, confinado e sem grandes vistas para o horizonte. Tal como no passado, acreditamos que depois das obras,
voltaremos a ter ali um espaço de encontro, de conversas, de manifestações culturais.
   O adro para além do seu símbolo religioso que representa, ao ter melhores acessibilidades das pessoas à igreja, à Casa Mortuária e sanitários, vai também servir de homenagem aos carvoeiros, uma das actividades que tanta dinâmica e importância trouxeram à freguesia.
    O primeiro passo já foi feito com a compra da casa que vai ser demolida. O local já mereceu a visita de uma arquitecta credenciada e bem-conceituada neste género de obras. Depois de reunir com a AMCF e a Fábrica da Igreja, estando presentes todos os membros, incluindo o sr. Padre Eduardo, mesmo debaixo da chuva, fomos visitar o lugar e recolheu informações e imagens, que mais tarde a ajudarão na elaboração do projecto. Falta só dizer o nome da arquitecta que, achamos ser uma boa escolha: Andreia Garcia Rodrigues.

terça-feira, 13 de maio de 2025

MALCATA É O REFLEXO DE SI MESMA


  

   Não basta chegar a presidente, a secretário ou tesoureiro da junta de freguesia ou ser membro da assembleia de freguesia. E não basta ir às sessões da Assembleia de Freguesia. Há que fazer mais do que marcar a presença física nas reuniões. É preciso estar motivados para resolver os problemas da nossa comunidade. E entre os vários problemas que hoje enfrentam os cidadãos é a falta de informação nas redes da internet. Não há forma de ignorar a sociedade em que vivemos. Hoje, a internet é o veículo que tem capacidade de levar as boas e as más notícias às comunidades. A ausência das Juntas de Freguesia na internet deve ser motivo de protesto dos cidadãos da freguesia. As instituições políticas e administrativas públicas, como são as autarquias, são mais importantes e mais fortes que as acções dos que exercem os lugares do Poder Local Administrativo, nomeadamente as Juntas de Freguesia.
   A confiança e a transparência são essenciais para garantir que todos se sintam bem representados e informados. Uma Junta de Freguesia é essencial para a construção de uma sociedade democrática, livre e deve construir pontes que aproximem os cidadãos. E nas freguesias como Malcata, a Junta de Freguesia continua a ser uma instituição respeitada por todos. Da mesma forma, quem nela trabalha, está ao serviço dos cidadãos. Na minha opinião, um dos melhores exemplos de confiança na Junta de Freguesia é confiar nas pessoas que se voluntariaram para servir a comunidade. E nunca deve ser banalizada e devia ser
uma preocupação constante manter os caminhos e as pontes ao serviço da democracia participativa.
   A verdade é que em Malcata, e mais precisamente nos últimos mandatos, o que acontece é que se ignora o papel da informação, o valor da transparência e banaliza-se tudo ou quase tudo aquilo que não nasça no berço do poder. Facilmente esquecemos o papel da Junta de Freguesia e até parece que não existem caminhos e pontes que nos permitem viver em liberdade.
   O povo merece ser respeitado e quem governa esse povo tem de se dar ao respeito. Como cidadão e malcatenho não posso aceitar tanta falta de comunicação e informação de interesse geral para quem vive na freguesia e quem vive mais distante. Os valores alcançados com o 25 de Abril de 1974 têm de ser valorizados e praticados todos os dias. 

   Quando é que Malcata tem motivos para sorrir?
   Quando é que em Malcata vamos ter uma Junta de Freguesia empreendedora, sonhadora e cortês, transparente, a governar com empatia e elevação?
                                               
                                                     José Nunes Martins

sábado, 3 de maio de 2025

O GRANDE APAGÃO

                             


   A vida das pessoas está dependente de muitas interligações e comunicações. Todos gostamos de ver o chão que calcamos, seja de dia ou de noite, num quarto de hotel ou na sala lá de casa.
O que aconteceu, no passado dia 28 de Abril, foi que a luz eléctrica falhou e todo o país ficou em choque, sem electricidade, tudo foi falhando c desmoronando com se fosse um castelo de cartas. Fui à rua saber as razões de não podermos acabar de estufar a carne que eu já havia provado e que ainda precisava de mais cozedura até ficar no ponto rebuçado.
   Portugal estava sem energia eléctrica, quem a tinha é porque estava ligado a um gerador ou carro eléctrico com 100% de carga nas baterias. Os corredores de casa e o WC entrávamos devagarinho aos apalpões até sentir que já nos orientávamos. Os vizinhos, coitados, um casal jovem, que vinha com as sacas cheias de compras do supermercado, olharam para as portas
dos dois elevadores e viram o sinal vermelho, ambos avariados e ali parados no rés do chão. E agora? Perguntaram um ao outro. Sem elevadores, há que ganhar vontade e força para chegar ao 5º Esquerdo Frente. Não tinham outra alternativa e iniciaram a subida sem mais comentários.
    Há muito que não vivia coisa igual, mas se a máquina do tempo pudesse voltar aos anos de 1968, 1969. 1970, em muitas aldeias deste nosso país, que hoje tanto se orgulha das energias verdes, seja produzidas pela velocidade dos ventos e o calor dos raios solares, apagões eléctricos, eram tantos que não têm conta e nem sequer ficaram registados. No Inverno, o frio, a chuva, a neve e o vento forte ou um trovão mais forte, era suficiente para apagar as lâmpadas e nada do que estivesse ligado às tomadas funcionava. Como nesse tempo não havia telemóveis, não havia internet, o povo da aldeia aguardava que a luz voltasse. Estes apagões não eram assim tão assustadores como o do 28 de Abril. As lâmpadas não acendiam e durante o tempo que demorasse a chegar a luz, as pessoas descansavam, sentavam-se ao lume e faziam caraba uns aos outros, iam continuar o trabalho no chão e no pior dos cenários, ao fim do dia quando chegassem a casa, quem sabe a luz já tinha voltado. Os constrangimentos causados pela falha da luz aceitavam-se como normais e até compreendiam que quando estavam os emigrantes na aldeia, o consumo aumentava logo e sobrecarregava a linha que não aguentava, queimava os fusíveis da cabine, a única que distribuía a luz para toda a aldeia.
   Até nestas coisas, nas falhas de luz, quem vive ou viveu numa aldeia do interior do nosso país, foi achando normal isso acontecer.
   Se a luz faltava, a vida na aldeia continuava e tudo ficava igual, só não acendiam as lâmpadas. Muitos nem deram conta que houve um grande apagão, trabalharam como noutro dia qualquer.

terça-feira, 22 de abril de 2025

AVISO: ÁGUA DA FONTE DA TORRINHA ESTÁ IMPRÓPRIA PARA CONSUMO

 

 


      

Uma imagem com edifício, texto, ar livre, parede
Fonte das Bicas em Malcata em Abril 2025



          

   O cenário está a repetir-se? 
   Porquê imprópria para consumo?
   As mesmas razões do sucedido em 2022?
   Uma das respostas é que nem sempre a água que sai das bicas/torneiras está nas melhores condições, como prova esta imagem obtida nestes dias de Abril, conforme nos alerta o aviso.
A água desta fonte é pública há muitos anos. Periodicamente vêm fazer análises à água e os resultados são afixados no local para consulta pública. A contaminação das águas desta fonte vêm acontecendo e já em 2022 aconteceu uma situação parecida e a Junta de Freguesia colocou o aviso no local.
   Ver aqui:  https://aldeiademalcata.blogspot.com/2022/08/malcata-agua-da-fonte-das-bicas-so-para.html
   Desta vez, até ao momento, a Junta de Freguesia, ainda não divulgou nas suas páginas da internet, as causas deste aviso. O que o aviso informa é que água da fonte da Torrinha não se apresenta em condições de ser consumida e mais não é avisado. A água desta fonte deve continuar disponível às pessoas e para isso há que garantir a qualidade da mesma. Alguma coisa tem de ser feito, pois a água sempre tem sido boa, só que ultimamente acontecem situações estranhas que alteram a qualidade da água da fonte que é pública e ganhou muitos consumidores.
  É da competência da Junta de Freguesia conservar e reparar o que está mal. E não é desculpa dizer que conhecem o problema ou que não há dinheiro para pagar. Esta fonte está à responsabilidade da autarquia de Malcata e  não pode deixar de correr nas bicas. A nascente tem água, à fonte também lá chega, se não chega em abundância ou se é periodicamente o caudal diminui,  há que saber as razões e decidir intervir e se há dinheiro para coisas menos importantes, também aparecerá dinheiro para se encontrar uma solução ao problema e garantir que aquela água continue a saciar os que dela se aproximarem para beber ou encher o cantil e levar para a caminhada. 
                                                                José Nunes Martins
   

sábado, 19 de abril de 2025

NA PÁSCOA EM MALCATA TOCAVAM AS CAMPAINHAS E OS SINOS:ALELUIA!

 

   O mês de Abril tem sido bastante chuvoso, com ventos fortes nos montes e grande ondulação no mar. Neste Sábado de Aleluia o sol já deu um pequeno ar da sua graça. Agora mesmo, ouço a água da chuva a bater com força nas vidraças das janelas, um final de dia bastante invernal. Para assustar só falta ouvir os trovões.
   Lembra outras Páscoas que passei na aldeia, com muita chuva e relampejos que assustavam toda a gente. Na Páscoa, as pessoas , mesmo as que estavam longe, apareciam na aldeia para assistir às cerimónias religiosas e passar o domingo de Páscoa com a família.
    A Páscoa era antecedida da quaresma e os três dias anteriores ao Domingo da Ressurreição, eram vividos como se estivéssemos a participar num funeral, com cantos e rezas tristes, as pessoas andavam os dias mais recolhidas, com roupas escuras sobre o corpo, de lenço preto na cabeça e xailes pretos, todas as mulheres eram iguais, dificultando imenso saber-lhes os nomes sem falar com elas.
   As minhas lembranças de criança guardo-as como se fossem um filme a preto e branco, das cerimónias dos Passos do Senhor e da Procissão do Enterro do Senhor, que despia por completo o interior da igreja paroquial. Não ficava um santo, todos eram retirados e a luz das velas criavam um ambiente que a mim me metia medo. Detestava o som das matracas, aquilo não era nada bom de ouvir, nada a ver com o som dos sinos, mas o sacristão estava proibido de subir ao campanário, tinha que andar a tocar as matracas, os sinos só depois da missa da Aleluia, a missa da vigília pascal, em que levávamos para a missa campainhas e chocalhos para fazer barulho assim que o senhor prior desse o sinal lá do altar! Aquilo sim, campainhas e chocalhos, sinos e sinetas anunciavam a Vida, a Ressurreição e cantava-se Aleluia, Aleluia.
   Os rapazes, no final da missa de Sábado de Aleluia, corriam para o campanário e esperavam a sua vez de agarrar nos dois badalos e tocar os sinos até dar a vez a outros. O tocar dos sinos da igreja era a forma mais audível de anunciar a Ressurreição, a vitória da Vida sobre a Morte.
   Nas minhas memórias de infância não se encontram cenas da Visita Pascal ou do Compasso. Essa tradição que, é antiga em muitas terras, na nossa aldeia não assisti e penso que nunca fez parte das celebrações da Festa da Páscoa. Mas a propósito do Compasso ou da Visita Pascal, tenho
lembranças de um Domingo de Páscoa em que vesti a batina e com mais dois homens que me acompanharam, durante o dia entrámos nas casas das pessoas desejar boas festas. E lembro-me que o homem da cruz, a certa altura, já o dia ia a meio, saiu-se com estas palavras para mim: “Ó sr. Padre,
tenha cuidado porque pode tombar”. E em minha defesa veio o dono da casa e disse: “Parece-me que ali o Manel Coxo já não se equilibra lá muito bem! Olha se tendes que ir todos ao balão…
   De facto o homem já andava com alguma dificuldade e às vezes notava que ele perdia o equilíbrio, mas ele replicou e disse:
_ Ó Kim, fica tranquilo e descansado porque eu já sou coxo há muitos anos…                          


quinta-feira, 17 de abril de 2025

AS MATRACAS QUE NOS ASSUSTAM

 


   Malcata já foi uma aldeia cuja população era de pessoas remediadas, viviam daquilo que as suas terras produziam. A maioria da população passava os dias a trabalhar nos campos a que chamavam “chão” e se havia grandes lavradores, com grandes áreas de terra arável, a maioria cultivava pequenas leiras e até as juntas de vacas tinham dificuldade em fazer uma boa sementeira, dadas as pequenas dimensões do “chão”. As famílias mais abastadas precisavam de mão de obra e havia algumas pessoas que trabalhavam aos dias, ou à jorna, por isso lhes chamavam jornaleiros. Estas pessoas trabalhavam para outros porque não tinham terras como possuíam os lavradores.
   Além destas duas actividades, lavradores e jornaleiros, havia muitos pastores de cabras, carvoeiros, carpinteiros, sapateiros, moleiros, tecedeiras, costureiras…
   Hoje as coisas são bem diferentes e a festa que se fazia na Páscoa, por exemplo, vestir roupa nova, é um costume já esquecido. Umas semanas bem antes da Páscoa, as costureiras começavam a receber os pedidos para um vestido novo, uma saia ou um par de calças. O processo começava na compra do tecido nos comércios, na ida à costureira, nas duas provas, como se pode ver, era um processo demorado, mas o importante de tudo, era estar pronto a tempo de o vestir no dia da festa.
   Era assim o dia a dia dos habitantes da aldeia. E sempre que morre alguém, toda a aldeia comenta com tristeza a perda, mostram-se tristes pelo que aconteceu. Então durante a Semana Santa, quando amanheciam os dias a tristeza tomava conta dos rostos e das nossas próprias acções.
      As tradições de Páscoa em Malcata são carregadas de simbologias religiosas. De Quinta-Feira até Domingo, nos meus tempos de meninice e que eu vivia na aldeia noite e dia, a Procissão do Senhor dos Passos e a Procissão do Enterro do Senhor, que acontecia entre a igreja paroquial e percorria as principais ruas da freguesia, destaco aquele momento evocativo do encontro de Jesus “Senhor dos Passos” com a sua Mãe “Nossa Senhora das Dores”, que o pregador convidado, fazia de viva-voz durante uns 20 minutos, pelo menos.
   Guardo ainda na minha memória em que também participava nas cerimónias da Semana-Santa na aldeia. As procissões, as canções e as roupas negras escuras, ainda mais tristeza se sentia no ar, no olhar e falar das pessoas.
   Havia um som que ouvia pelas ruas da aldeia que só acontecia pela altura da Páscoa. O barulho era tão arrepiante que se ouvia ao longe, rompia o silêncio e a calma até dos gatos.
Lembram-se do tocar das matracas? E do sacristão que andava pelas ruas a chamar as pessoas para as cerimónias religiosas na igreja? Como é que as matracas conseguiam fazer tanto
barulho e muito estranho de ouvir? Por muito que o sacristão ensinasse como se deviam tocar, poucos lhe ganhavam o jeito para abanar um bocado de tábua e fazer bater o ferro na madeira.
Como não se tocavam os sinos, era ao som das matracas que o sacristão fazia aquele sacrifício de percorrer as ruas e no fim da terceira volta, o padre dava início às cerimónias na igreja.
   A Páscoa é celebrada em tempo de Primavera, com dias mais compridos, mais quentes, os campos começam a renascer do frio do Inverno, veem as flores, as papoilas e as árvores enchem-se de flores. Também a própria natureza costuma vestir roupa nova.
   Um olhar atento ao que se está a passar na natureza e a participação consciente e de desprendimento, podem ser sinais externos da nossa ressurreição. Basta olhar e captar o que Jesus nos quer dizer com a morte, o sofrimento, a paixão pela vida, pelas flores, pelos sinos a tocar em rebate festivo. Porque a vida na Terra se constrói com coisas simples…alegres e belas também. 
                                                                        José Nunes Martins

terça-feira, 15 de abril de 2025

MALCATA À ESPERA DA RESSURREIÇÃO

 


   Tem sido sempre assim. Já várias vezes abordei o assunto. Estamos mesmo
escondidos num buraco entre o castelo do Sabugal e a Machoca. Esta escuridão cerrada a que os malcatenhos estão obrigados por parte do poder autárquico e, neste caso, por parte da Junta de Freguesia, é disso prova. Questiono-me diversas vezes se eles, no fundo, querem mesmo que os malcatenhos, que não vivem na freguesia, permaneçam cada vez mais esquecidos das suas origens. Isto não pode ser e não deve acontecer. Será que sou o único malcatenho a sentir falta de notícias sobre a freguesia e as pessoas malcatenhas? Ou seja, mesmo não o desejando, somos obrigados a viver alheados e afastados da aldeia?
   É que a freguesia vive isolada do mundo e ninguém se preocupa com isso! O isolamento a que está votada deve ser preocupação de todos, dos que aí vivem e daqueles que vivem distantes.
   É incompreensível e até impensável que a nossa freguesia se esteja a deixar morrer desta forma e não ver nem sentir qualquer sinal de revolta, qualquer manifestação de
insatisfação. Quem visita as redes sociais, as páginas oficiais da nossa Freguesia, rapidamente verificará que na nossa terra nada acontece, está tudo na santa paz e harmonia, são um povo satisfeito e por isso, não mudam de vida!
   Isto é preocupante e se o não fosse, eu até brincava com a situação. O que se está a passar é de gente que não quer o melhor para as pessoas da nossa terra. Olham demasiado para os seus umbigos e esquecem que todos temos umbigo.
   O mundo não perdoará o tempo às pessoas. Os dias passam e tal como acontece com as borboletas, acaba mesmo tudo. Será que é isso que querem? Acabar com tudo? Há muito que o Amigo da Verdade, jornal semanal que muitos assinaram, deixou de ser lido porque acabaram com ele. Era o grande elo e informação que o concelho do Sabugal tinha e lia todas as semanas. Tem sido nos arquivos deste jornal que vou beber um pouco da história da nossa aldeia. Era neste jornal que os emigrantes, os soldados, os estudantes e os que viviam na aldeia, que ficavam a par da vida e das pessoas que viviam em seu redor. Nesses anos ainda nem se falava da internet e das suas virtudes. Hoje, a sociedade já não dispensa a internet, tudo se transmite, o bem e o mal nunca andaram tanto nas bocas do mundo. A internet é na verdade uma das melhores e mais rápidas ferramentas para o homem comunicar,
expressar aos outros os seus sentimentos, os seus problemas, os seus êxitos…
   Estamos em época Pascal e Páscoa é sinónimo de reflexão, de renovação, de sofrimento e de muito amor, de um desprendimento daquilo a que vivemos agarrados mesmo que esteja a fazer mal aos outros. As mudanças trazem renovações e ressuscitar é daquelas mudanças que todos queremos…novos sonhos, desejos, projectos, objectivos, caminhos, servir mais do que ser servido…e não precisamos de ser pregados na cruz para tudo mudar e ser diferente. É difícil abandonar hábitos, vícios, desejos, planos, para que os outros sejam mais felizes, mas muitas das vezes e algumas dessas coisas estão mais ao nosso alcance do que nós imaginamos…

quarta-feira, 9 de abril de 2025

MALCATA: PARA MEMÓRIA DE TODOS

   

Rui Chamusco e Zé Lucas em modo
de concerto à sua maneira.



   Para uma pessoa compreender o presente ela precisa também de conhecer o passado. Por isso, recordar ou observar o que foram durante muitos anos alguns lugares de Malcata, os costumes, as tradições, todas elas e não apenas aquelas que se gostaram ou se defendem agora:

Malcata-dados
- Corela- ACDM- Ribeira- Malhas do pão - Maçarocas de milho – Janeiras…
Festas e procissões-Acompanhamentos – Tabernas – Comércios...
Alcabuz – Raiola – Pião – Boneco de neve…Candeia…Vacas – Cabras…
  
Malcata-dados


   Mesmo que não pareça, sou da Beira, eu nasci na aldeia de Malcata. Os meus pais nasceram também em Malcata, trabalharam na agricultura e sempre estiveram ligados à aldeia, à vida do campo, tempos bem diferentes dos que hoje vivemos. Nos anos da minha infância a aldeia estava cheia de crianças, as pessoas iam e vinham do trabalho, tratavam da vida e ainda tinham tempo para se divertirem. Recordo-me que a vida na aldeia corria com alegria, com o barulho dos carros de vacas, com as galinhas em plena calçada ou mesmo nas ruas de terra batida, que naquele tempo, havia muitas ruas que no Inverno enlameavam os sapatos e no Verão enchiam-nos de poeira.  Eu nasci em Malcata mas, depois, com 12 anos mandaram-me a estudar para bem longe, mais longe que a Guarda e Coimbra, mesmo ao lado do Porto, para Vila Nova de Gaia.
   A aldeia, passados estes anos, está mais triste, já não se ouvem os carros de vacas, nem nas ruas se veem galinhas, cabras ou burros. Estes ruídos davam ainda mais prazer escutá-los misturados com as correrias dos garotos. São as memórias que ainda guardo na minha memória de infância.



Banda da música em dia de festa

  Se não tenho retratos desses tempos é porque não era de família abastada. Infelizmente, as máquinas fotográficas só estavam ao alcance de algumas pessoas. Na nossa aldeia havia algumas, eram pessoas com mais dinheiro, gente trabalhadora, gente boa. E como é que eu sei que tinham máquina fotográfica? Porque encontro muitas fotografias de há muitos anos, são registos dessas pessoas, das suas famílias, das suas vidas e dos lugares por onde viviam e vivem. São verdadeiros tesouros documentais e que muitos contribuem para matar saudades, para hoje as pessoas conhecerem a aldeia onde nasceram, ou os seus pais, avós…eu aqui neste espaço só desejo que quem o lê, compreenda a história da aldeia e das pessoas a ela ligadas e que estejam onde estiverem, têm coração malcatenho.



    



Porquê construir muros 
quando uma corda bastava?





Malcata presente e com ofertas
            
          PS: Quem tiver em sua posse imagens antigas, podem enviar para aqui e terei todo o gosto
                 em divulgar. Enviem via e-mail: josnumar@gmail.com ; por Messenger ou Face Book 
                 em mensagem privada e claro, com as vossas indicações a ditar o tratamento das imagens,
                  por exemplo, indicar os rostos a desfocar ou cortar na foto. Obrigado.

                                                             José Nunes Martins

domingo, 6 de abril de 2025

MALCATA: AS MINHAS PRIMAS QUE GOSTAM DE BORBOLETAS SEM NOME

 


   Há borboletas muito bonitas, há amarelas, brancas, castanhas, amarelas e castanhas, são tantas as cores que ao olhar para elas e para a sua leveza e beleza, fico em silêncio e atento aos seus movimentos. Dizem que as borboletas vivem pouco, um dia nascem e no fim desse dia, voam para o céu delas. É preciso ser corajoso e querer viver um dia.
   Sabem, tenho umas primas que apreciam muito a vida e gostam de apreciar o reino das borboletas. Gostam muito de viver e encontraram no reino das borboletas o sentimento maravilhoso de amar outras crianças, outras mães e pais. Tal como as borboletas que são corajosas e ultrapassam os problemas que aparecem na vida, as minhas primas amigas de borboletas construíram uma obra e foi a forma encontrada para partilhar o amor de viver alegre e feliz enquanto respiram neste grande jardim que é o mundo.  E a obra está muito bem desenhada, escrita, tem tantas janelas e portas que as borboletas entram e saem quando lhes apetece, é só desejar.
   Ah! Ainda não vos revelei que obra se trata, onde e como a podem conhecer?! Que falta de educação a minha! Se quiserem conhecer ou apenas espreitar pela frincha da porta, vejam por este buraquinho:
https://www.atlanticbookshop.pt/7-aos-10-anos/a-procura-da-borboleta-que-nao-tinha-nome


Malcata-terra das borboletas sem nome !


José Nunes Martins

 

quinta-feira, 3 de abril de 2025

MALCATA: CARVALHÃO SEM CARVALHOS E SEM VIZINHOS

 

Carvalhos deram o nome ao Carvalhão

   Na nossa aldeia a maioria das pessoas dedicava-se à agricultura e era dos chãos que tiravam o sustento para a família. Como acontecia em todas as aldeias, havia famílias que eram donos de muitas terras e encontravam-se espalhadas por toda a área da freguesia. Possuíam uma ou duas juntas de vacas, um carro de transporte, uma casa de habitação grande e com um bom curral, com lugar e espaço para nele caber tudo e mais não sei quê, desde o carro de vacas, a lenha e o tronco para a cortar, a estrumeira, a cortelha dos porcos, a capoeira das galinhas, flores e até uma cerejeira ou figueira, quando não era uma videira encostada à frente da casa.
   Nesses tempos em que ainda não havia máquinas e todo o trabalho se fazia manualmente ou recorrendo à força dos animais que puxavam a charrua, o arado, a grade e se fosse preciso, até se utilizavam para fazer a nora do poço rodar e encher os copos de água que depois eram esvaziados para a caldeira e depois ia rego abaixo até onde fosse necessária.
    As famílias procuravam formas de combater a falta de máquinas. E a mais comum de todas era aumentar o número de filhos e colocá-los a trabalhar na agricultura. Os mais novos eram mandados a guardar os animais, podiam ser cabras, vacas e o burro, que sem grande esforço físico qualquer criança conseguia levar até aos lameiros e trazê-los de regresso a casa ao fim de umas horas.
                                                



   - “Ó João, está na hora de ir guardar a vaca e as cabras!” – dizia-me a Ti Benvinda, minha mãe, lá do cimo da varanda de casa.
   Olhei para ela e vi que estava a depenar uns feijões que tinha posto ao sol a secar, como estava calor tinha-os espalhado pelo chão da varanda e ali ia ficar sentada na cadeira a depenar feijões. Eu deixei as brincadeiras e lá fui à loja soltar o gado para o levar até ao Ozival, para o lameiro.
   Até que gostava de guardar a vaca e as cabras! A vaca nestas alturas levava uma vida de sonho, saíam para comer e depois de barriga cheia, regressava à loja. Havia alguns dias assim, leves, frescos, comer e beber e deitar a ruminar feno. Talvez a vaca soubesse que enquanto estivesse prenha, não seria junguida para nada, nem sequer para agradear o chão!
   Aquilo sim, era uma vida de trabalho e muito suor, mas as pessoas viviam contentes com a sua vida.
   Aqueles tempos fazem-me pensar na sorte que às vezes precisamos de ter na vida. Por exemplo, morar junto a um bom grupo de vizinhos, normalmente famílias de respeito e bom coração. Essa foi a sorte da minha família: viver ao lado da Ti Cilda e Ti Joaquim António, da Ti Ana e do Ti Domingos, da Ti Ana e do Ti João, do Ti Zé Triste e da mulher da qual não me lembro do nome, da Ti Rosa e do Ti Quim Nita, da Ti Ana e do Ti Horácio, da Ti Dorinda e do Ti João, da Ti Graça e do Ti Manel,  da Ti Lucinda, vivia sozinha, da Ti Delaide e Ti Quim…da Ti Irundina…do meuTi Zé Gravanço…a juntar a estes nomes um rol bem grande de rapazes e raparigas, davam vida ao Carvalhão. Há ainda dois casais vizinhos que não mencionei, nesse tempo que me estou a querer lembrar, estavam as duas habitações vazias durante todo o ano, pois só vinham à aldeia quando tinham “vacanças” e então sim, vinham aumentar o número de vizinhos. E estou a referir-me aos meus tios: Ti Dulce e Ti Zé Pires e ao Ti Felisberto e Ti Cilda Coxa e Carlos e Natália. Todas as famílias se davam bem umas com as outras, ajudavam-se cada vez que fosse preciso.

 
Barreira no Carvalhão

   



   Eram os anos 60, 70 e 80, tempos memoráveis e que hoje é património imaterial das nossas vidas, da aldeia e do lugar do Carvalhão. Os vizinhos do Carvalhão eram mais do que estes, ainda agora me lembrei doutro casal, o homem chamavam-lhe Ti Navalhinhas, perdoem, mas de momento esqueci-me do nome da sua mulher, da Lena, do Ti Firmino e da sua vizinhança, os pais da Marizé casada com o Amadeu. Se agora me lembrasse dos seus nomes…ai a minha memória, às vezes não ajuda. Não levem a mal, são muitos anos a viver longe da aldeia e das pessoas daí.
   Fico à espera da vossa ajuda para identificar esta gente amiga.
   Já agora, expressem a vossa opinião sobre o que leram.
  
  
  
  
Beco da Corela
(Carlos e Natália)



Vizinhos a conversa
(Isilda e Ascensão)